Deu no blog de Augusto Nunes, da revista Verja.
Os leitores da coluna convivem há meses com a refinada ironia de Celso Arnaldo.
Hoje, quem ainda não a conhece será apresentado à indignação do jornalista Celso
Arnaldo Araújo. Perplexo com a matança de crianças maranhenses, resultante da
falta de leitos na capitania hereditária da famiglia Sarney, ele conta neste
post a saga das Isabellas sem-imprensa:
Acompanho, com horror e nojo, a cobertura de mais uma tragédia maranhense: a
morte em série de crianças, inclusive recém-nascidas, por falta de leitos de UTI
no estado.
A Folha deste domingo registra a 16ª morte do ano ─ a vítima é Mayara
Francelino, 8, que agonizava há nove dias, em leito comum, numa sala abafada e
imunda, com meningite, à espera de uma vaga em unidade de terapia intensiva em
sua cidade, Imperatriz.
Nem uma liminar obtida na Justiça, obrigando o governo maranhense a lhe oferecer
UTI, mesmo que fosse em clínica particular, conseguiu materializar a tempo o
tratamento que talvez lhe desse alguma chance de sobrevivência. A UTI só
apareceu quando era tarde demais.
Mayara é a vítima de número 16 de mais essa incúria do governo instalado no
Palácio dos Leões, em São Luís, que há mais de 40 anos abriga, com fausto, pompa
e riqueza progressiva, uma família de hienas que se refestelam na carniça de seu
povo.
O estado tem o pior índice de IDH do país, a pior educação e o pior
sistema de saúde, entre outros superlativos do mal.
No ano passado, 43 outras crianças morreram no Maranhão nas mesmas
circunstâncias.
O mesmo governo que sonega a essas crianças, ainda no útero das
mães, condições sociais mínimas de nutrição e bem-estar, mata-as assim que vêm
ao mundo, ou um pouco mais tarde, porque devem ter faltado pelo menos 13 milhões
de dólares para a instalação dos necessários leitos de UTI infantil, a fim de
atender às vítimas da contaminação pela miséria e pelo descaso, que resultam em
baixo peso ao nascer, desnutrição, infecções oportunistas.
Ouso afirmar que os 13 milhões de dólares de Fernando Sarney que tomavam sol nas
Bahamas têm a ver com as mortes dessas crianças. E que essa tragédia está
intimamente relacionada à atuação dos Sarneys, que há 40 anos sugam e desgraçam
o Maranhão.
Leio os jornais com horror, nojo e uma ponta de sentimento de culpa: enquanto
perco tempo e verve analisando as crônicas mambembes do patriarca dessa família
infame, relevo o fato de que ser o pior escritor do mundo é o mais leve de seus
delitos.
Teria José Sarney a decência e a coragem de assinar um texto sobre Mayara ─ como
se arvorou em fazer, numa crônica da Folha, a respeito de uma menina haitiana
que ele identificou como MJ, amputada a sangue frio num hospital de campana
improvisado em Porto Príncipe?
A inicial é a mesma. E há outra coincidência: MJ foi vítima de uma catástrofe
natural; a pequena Mayara, também ─ a perpetuação do governo Sarney no Maranhão
é uma catástrofe natural, e muito mais mortal, porque acumula danos há mais de
40 anos, instabilizando, pela miséria eterna, os níveis subterrâneos do terreno
social do estado.
O governo Sarney não socorreu Mayara a tempo ─ nem com ordem judicial. Mas era
uma ordem difícil mesmo de cumprir: não há leitos suficientes no estado, nem à
força.
Com o cinismo que é de família, a governadora, só depois da morte de Mayara e de
outras 58 crianças Sem-UTI, designou 5 milhões de reais para a criação de um
punhado de leitos no hospital onde agonizou a menina - o Hospital Municipal
Infantil de Imperatriz, conhecido, à propos, como Socorrinho.
Noves fora os 20 ou 30% dessa verba que vão morrer no caminho, sem passar pela
futura UTI, até diretores do Socorrinho acham que a coisa vai continuar como
está e novas Mayaras morrerão: para abrigar uma unidade da terapia intensiva, o
hospital precisaria rever radicalmente seus padrões de higiene, que estão abaixo
dos da tenda onde MJ foi amputada.
Por força de hábito, mas me sentindo a pior das criaturas, passei os olhos pela
crônica de José Sarney na Folha de sexta-feira: ele continua obcecado pelo
avanço da internet, que mal conhece, agora ameaçando a sobrevivência dos jornais
impressos.
No final, depois daqueles raciocínios escabrosamente sem nexo de que só o pior
escritor do mundo é capaz, ele sentencia, bem a seu estilo:
─ Finalmente, como o rádio e a TV não mataram o jornal, a internet não o matará.
Só quem pode matá-lo é ele mesmo, querendo ser internet ou fazendo mau
jornalismo.
Podemos garantir ao cronista que, mesmo que essa previsão não se concretize, e o
jornal impresso vá a encontro de sua morte, as gerações futuras terão acesso,
num hipotético arquivo nacional da vergonha e do escárnio, a um pedaço de papel
embolorado noticiando a morte de Mayara e das demais crianças maranhenses ─ cuja
lembrança, um dia, assombrará também as futuras gerações da família Sarney.
As Isabellas do Maranhão são atiradas para a morte por pais-da-pátria que nem
tentam enxergá-las das janelas dos palácios. Morrem sem barulho. E acabam
esquecidas na vala comum reservada aos que jamais conseguirão aparecer na
primeira página do jornal.
segunda-feira, 29 de março de 2010
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porque o JACKSON não resolveu este problema quando foi governador? quanto o FLAVIO DINO,RIBAMAR ALVES,DUTRA e outros parlamentares da dita oposição mandaram de recursos via emenda parlamentar para a saúde do estado? os demais oposicionistas que tem transito livre no palacio do planalto o que fizeram ou estão fazendo para solucionar o problema? criticar é muito simples e facil, fazer campanha em cima da dor alheia e de um mau gosto enorme, mostrem o que fizeram pelo estado, pelas crianças pobres, para melhorar a saude, educação, indices de IDH, afinal vcs. detem cargos publicos, tem amplo transito nos palacios do poder em BRASILIA, e o PRESIDENTE E DE UM PARTIDO DE ESQUERDA. criticar por criticar e muito facil, dificil e fazer algo para o bem estar do povo maranhense! não coligaram com o PMDB para continuarem ladrando enquanto a carruagem passa!! até quando vcs. vão ser estilingue ao invés de vidraça? com este discurso de terra arrasada, de quanto pior melhor, difilmente vão conseguir a confiança do povo do Maranhão, este sempre foi o slogan, a bandeira da oposição criticar e bater forte na familia SARNEY. não entendo como Zé Reinaldo, Vidigal, João Castelo e inumeros outros que hoje se dizem oposição tem coragem de criticar um grupo do qual fizeram parte por decádas!!!
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