Eleitor de carteirinha de Lula

Eu votei nove vezes em Luiz Inácio Lula da Silva.

1.° voto: em 1986 para deputado federal constituinte pelo PT/SP; o presidente biônico do Brasil era José Sarney, do PMDB

2.° voto: no 1.° turno de 1989 nas primeiras eleições diretas para presidente desde o golpe militar de 1964; Sarney ainda era presidente do Brasil e ensaiou um apoio à candidatura malograda de Silvio Santos, flertou com a candidatura de Leonel Brizola, do PDT, e acabou declarando voto em seu jornal “ O Estado do Maranhão” ao candidato do PFL, Aureliano Chaves, cristianizando o candidato oficial do PMDB naquele ano, deputado Ulisses Guimarães;

3.° voto: no 2.° turno das mesmas eleições contra Fernando Collor, do PRN de Alagoas;


4.° voto: em 1994 na eleição em que Lula foi derrotado pela primeira vez pelos tucanos; Roseana e Sarney Filho apoiaram FHC e o ex-presidente Sarney chegou a receber o tucano em sua casa na praia do Calhau. Mais uma vez Sarney traiu o PMDB e não apoiou o candidato de seu partido, Orestes Quércia;

5.° voto: em 1998, votei novamente em Lula na disputa que reelegeu FHC para um segundo mandato. Naquela eleição Sarney conduziu oficialmente o PMDB para apoiar FHC e na precisou trair ninguém. De quebra seu filho Zequinha ainda virou Ministro do Meio Ambiente do tucano:

6.° voto: em 2002 votei em Lula no 1.° turno embora reconheça que o candidato tucano José Serra foi de longe, o melhor e mais bem preparado Ministro da Saúde da história brasileira. No início da campanha eleitoral de 2002, a então pré-candidata a presidente pelo PFL, Roseana Sarney, foi pega com a boca na botija por uma operação da PF que apreendeu R$ 1.350.000,00 em notas de 50 (as famosas oncinhas) no escritório da empresa Lunus, em São Luís. Roseana deu sete explicações sobre a origem do dinheiro e nenhuma convenceu a opinião pública brasileira, obrigando-a a retirar a candidatura. Sarney em represália aos antigos aliados tucanos, aderiu com malas e bagagens à candidatura petista de Lula e passou à condição de “conselheiro-mor” de Lula;

7.° voto: no 2.° turno de 2002, votei em Lula que derrotou Serra, do PSDB. Sarney mais uma vez indicou a maioria esmagadora dos 56 cargos públicos federais no Estado;

8.° voto: no 1.° turno de 2006 quando Lula se reelegeu batendo um dos candidatos mais fracos da história republicana brasileira, Geraldo Alckmin, do PSDB; e

9.° voto: no 2.° turno das eleições de 2006.

Os sete primeiros votos dados em Lula, de 1986 ao 2.° turno de 2002 foram dados de forma consciente, na esperança de dias melhores para o povo brasileiro e fé de que com Lula e o PT a bandalheira em nosso Brasil iria diminuir e a ação nefasta dos grupos oligárquicos tinha seus dias de glória e dominação contados.

Confesso que os dois votos dados a Lula em 2006 foram dados com muito desconforto e desconfiança.

Lula já estava no poder há quatro anos e problemas cruciais para mim e a história política do PT e de Lula não tinham sido enfrentados com o vigor e a determinação necessárias: a questão da falta de água crônica no Nordeste, quando sabemos que seu subsolo é rico em lençóis freáticos; a reforma agrária radical que garantisse terra e trabalho imediato para milhões de famílias; o combate sem tréguas ao analfabetismo; a adoção do programa saúde da família com agentes de saúde distribuídos por todos, sem exceção, municípios brasileiros; a revitalização e acesso obrigatório em todo o Brasil ao ensino fundamental público de qualidade; e a implantação definitiva do Sistema Único de Saúde em todas as unidades da União, com ênfase à Saúde Pública e Gratuita.

Fica a pergunta: se os judeus transformaram rapidamente o deserto em área agrícola de alta produtividade, porque Lula não fez o mesmo no sertão e caatinga nordestina?

Se Cuba erradicou em pouco tempo o analfabetismo e garantiu saúde pública de qualidade e a quase extinção de doenças graves, porque Lula não começou a fazer isso no Brasil?

Se vários países do mundo fizeram um reforma agrária de fato, garantindo terra e trabalho para milhões e garantindo o fornecimento de alimentos de primeira necessidade a preço mais baixos, porque Lula não realizou uma verdadeira revolução verde no Brasil?

O estabelecimento de políticas compensatórias como o Bolsa Família e o ProUni são benéficas por que resolvem os problemas mais urgentes da população carente brasileira.

Mas se não vierem acompanhadas de medidas estruturantes que objetivem a mudança da realidade pela mobilização efetiva das populações necessitadas em busca de seus direitos, ações como o bolsa família e outras se tornarão meros paliativos que poderão viciar o cidadão a viver de favor, como cantava o velho Gonzagão.

O apoio de Lula à oligarquia mais atrasada do Brasil, a comandada pessoalmente pelo ex-presidente José Sarney e sua filha dileta, |Roseana Sarney Murad, talvez seja uma das principais facetas deste comportamento tolo e dito pragmático, na realidade oportunista, de Lula.

Lula reuniu muito apoio em sua caminhada oposicionista por que sempre combateu de frente o Maluf, Delfin, Pitta e Sarney da vida. Enquanto o PT era minoritário, Lula condenou a participação de três deputados federais no Colégio Eleitoral em 1985 e só passou a ser pragmático quando venceu a eleição em 2002.

Ao invés de isolar e se afastar de lideranças como Sarney, Renan Calheiros, Jáder Barbalho e Fernando Collor, Lula deu sobrevida a este bando de sanguessugas como se precisasse deles.

Inconcebível e inacreditável. Mas é a pura realidade.

Uma pena.

Já decidi que não darei meu 10.° voto consecutivo para o PT. Entre Dilma Roussef e Lina Vieira, ex-superintendente da Receita Federal, fica cristalino como água mineral jorrando da fonte que Dilma mente e Vieira fala a verdade.

Estou na dúvida entre votar em Marina Silva, do PV, mas muito mal acompanhada pelo Deputado Sarney Filho no Maranhão; e Ciro Gomes, do PSB.

Por enquanto são essas minhas impressões sobre a eleição para presidente da República em 2010.