domingo, 13 de dezembro de 2009

Recordar é Viver 11: "Fernando Sarney inventou a parceria público privado no Maranhão há 26 anos"

Ontem quando eu resolvi publicar a série "Recordar é Viver" para comemorar três meses de aniversário deste blog, afirmei que ia republicar as dez postagens mais interessantes e polêmicas veiculadas neste espaço desde 17 de setembro.

Ontem publiquei cinco matérias e hoje fiquei de publicar mais cinco. Acontece que quando fui selecionar as cinco restantes mais importantes, fiquei em dúvida de como escolher cinco das sete selecionadas.

Resolvi então publicar as outras sete matérias.

A décima-primeira matéria foi publicada em seis de outubro último e fala da precocidade do mega-empresário Fernando José Macieira Sarney, que há 26 anos, em 1983, previu o futuro e inventou a parceria público-privado no Maranhão.

Como presidente da Cemar ele assinava cheques para comprar postes de cimento produzidos pela empresa Premolde, Artefatos de Cimento Ltda., do qual era sócio cotista.

Preenchia os cheques de compra de postes com a maõ direita e utilizava a mão esquerda para receber os mesmo cheqes como dono da Premolde.

Simples, não é!

Vejam a matéria:

"Há vinte e seis anos, seis meses e vinte dias o engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP, Fernando José Macieira Sarney, entrou para a história do mundo dos negócios.

No dia 16 de março de 1983, Fernando Sarney assumiu a presidência da Cemar – Companhia Energética do Maranhão. Ele foi nomeado pelo então governador recém eleito pelo PDS (Partido Democrático Social), Luís Rocha, candidato apoiado pelo ainda senador pelo Maranhão, José Sarney.

Em 1982 aconteceram as primeiras eleições diretas para governadores de Estado desde 1965, quando no Maranhão o próprio Sarney se elegeu pela UDN.

A posse de Fernando na presidência da Cemar foi noticiada na capa do jornal “O Estado do Maranhão”, edição do dia 17 de março de 1983, com direito à foto do irmão de Roseana, de óculos, assinando o termo de posse na Cemar.

No texto da matéria sobre a posse de Fernando na Cemar, o jornalista que cobriu o evento disse: “Centenas de pessoas compareceram à cerimônia. Depois de afirmar ‘ser o povo o único beneficiário’ das ações da empresa, Fernando Sarney frisou que o ‘homem público deve se vigiar permanentemente’...”.

Veja a seguir a reprodução da matéria no jornal ”O Estado do Maranhão”, edição de 17 de março de 1983.



Meu texto é uma espécie de saudação e reconhecimento da capacidade administrativa pública e do tino comercial empresarial desenvolvido por Fernando Sarney.

Eu explico melhor! No dia 15 de fevereiro de 1985, quase dois anos depois da posse de Fernando na presidência da Cemar, o mesmo jornal, “O Estado do Maranhão”, publicou o resumo da ata de realização de uma assembléia de cotistas da empresa Premolde, Artefatos de Cimento Ltda.

A ata anunciava uma decisão tomada pelos três cotistas, sócios e proprietários da empresa na assembléia realizada em 28 de janeiro de 1985: emissão de 54 milhões de ações no valor de Cr$1, 00 (um cruzeiro) cada uma, sendo 14 milhões de ações ordinárias com direito a voto e 40 milhões de ações preferenciais, sem direito a voto, totalmente subscritas pelo Fundo de Investimentos da Amazônia – FINAM.

Participaram da assembléia da Premolde, Artefatos de Cimento Ltda. os sócios Miguel Nicolau Duailibe Neto, presidente do Conselho, sua esposa Maria de Fátima dos Santos Duailibe e Fernando José Macieira Sarney.

Veja agora a cópia da ata da Premolde, Artefatos de Cimento Ltda., publicada pelo próprio jornal da família Sarney em 27 de fevereiro de 1985.



O mais interessante ainda é que a Premolde possuía uma característica única que a diferenciava de outras empresas privadas maranhenses existentes no início dos anos 80: produzia um só tipo de produto e tinha um único cliente exclusivo.

A Premolde fabricava e fabrica até hoje postes de cimento para iluminação pública e transmissão de energia da alta e baixa tensão. Seu único e exclusivo cliente é a Cemar.

Veja agora a reprodução de uma nota fiscal de número 11.452, datada de 03 de setembro de 1994, relativa à venda de 1.800 postes de concreto duplo (1.000 do tipo T 10/150 e 800 do tipo T 11/300), no valor total de R$ 127.054,00. A empresa vendedora foi a Premolde, Artefatos de Cimento Ltda., e quem comprou foi a Companhia Energética do Maranhão.



Mais de dez anos depois da posse de Fernando Sarney na presidência da Cemar, em 24 de novembro de 1993, a composição social da empresa mudou; saíram da sociedade Maria de Fátima dos Santos Duailibe (esposa de Miguelzinho Duailibe), Tereza Cristina Murad Sarney (esposa de Fernando Sarney) e o próprio Fernando José Macieira Sarney. Entraram Armando Martins de Oliveira, Salem Zugair e a empresa Amper, Construções Elétricas Ltda., com sede em Cuiabá, Mato Grosso, e filial em São Luís

Oliveira, conhecido no mundo dos negócios como “Armandinho Nova República”, é irmão do deputado federal autor da Emenda das Diretas e ex-governador do Mato Grasso, Dante de Oliveira, já falecido. Com o passar dos anos, Fernando Sarney ampliou o raio de ação de seus negócios e praticamente monopolizou para si e seus sócios o setor elétrico brasileiro.

Não é por acaso que o ex-ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, é amigo pessoal de Fernando e foi diretor da Cemar na época em que a empresa ainda era pública. Tanto Rondeau como o atual ministro Édison Lobão, foram indicações pessoais do comandante do clã oligárquico, o senador José Sarney.

Mas isto é outra história!! Hoje escrevemos sobre a inédita parceria pública privada inventada há mais de 26 anos pelo empresário Fernando Sarney.

O destino do Maranhão ali já fora traçado: Fernando Sarney vendia postes de cimento com a mão esquerda; Fernando Sarney comprava postes de cimento com a mão direita; e só ele lucrava, pois os bolsos da calça de Fernando Sarney estavam sempre cheios de cédulas e moedas desviadas do cofre público estadual.

Pelo jeito o homem público Fernando Sarney nunca foi devidamente vigiado. Nem por ele próprio e nem por ninguém, pois a Polícia Federal do Brasil que investiga os negócios dele desde 2006, o apontou com líder de uma perigosa “OCRIM”, organização criminosa, que sangra à décadas os escassos recursos públicos federais e estaduais."

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