domingo, 21 de março de 2010

A sucessão de Lula

Eu assisti uma parte da entrevista do governador paulista José Serra com o jornalista José Luis Datena, da rede Bandeirantes de TV, na última quinta-feira.

Meio que forçado, o tucano admitiu que se afastará do Palácio dos Bandeirantes no início de abril para disputar a presidência da República. Até lá, acho que poderá surgir alguma pesquisa nacional de intenção de votos que já coloque a candidata do PT, Dilma Roussef, na liderança.

No confronto candidato a candidata, acho que Serra é bem mais experiente como administrador público e é mais tarimbado do que Dilma. No confronto entre as duas biografias, Serra também leva vantagem, pois ocupa cargos com públicos de forma destacada desde 1983 com a vitória de Franco Montoro ao governo de São Paulo.

Sua passagem pelo Ministério da Saúde no governo de FHC foi brilhante quando criou os medicamentos genéricos e quebrou as patentes dos remédios contra a AIDS, que eram monopólio de grandes laboratórios norte-americanos.

Serra tem quatro grandes problemas para enfrentar e resolver: disputar a presidência contra a candidata de Lula, o presidente mais popular da história do Brasil; o receituário liberal conservador do PSDB de FHC; conquistar o apoio efetivo de Aécio Neves e do eleitorado de Minas Gerais (o segundo colégio eleitoral do Brasil); e a má companhia na campanha eleitoral dos Democratas, ex-PFL, ex-PDS e ex-ARENA.

Além disso, Serra entra atrasado na campanha eleitoral que teve sua agenda antecipada por Lula. Dilma não é a candidata dos sonhos do PT, mas é a candidata possível que Lula conseguiu.

Pesa contra ela a coligação com o PMDB, um verdadeiro balaio de gatos repleto de caciques regionais conservadores e corruptos e sem nenhuma unidade ideológica nacional.

Maior partido do Brasil desde 1985, o PMDB prefere ser o partido da boquinha ao invés de lançar candidatos próprios à presidência da República.

A base aliada do PT no Congresso também é muito variada, passando da esquerda histórica brasileira como o PC do B e o PSB até partidos de legenda de aluguel de direita e sem ideologia como o PTB, PP e o PRB.

Correndo por fora na campanha presidencial estão Ciro Gomes, do PSB e Marina Silva, do PV.

Se tiverem fôlego na campanha eleitoral, Ciro e Marina poderão crescer e tornar o resultado das eleições incerto.

Por enquanto Serra perdeu a grande vantagem que possuía sobre Dilma que cresceu no vácuo do tucano.

Vamos ver quando a campanha começar de fato. Serra é mais bem preparado do que Dilma. Ambos carregam uma dose de antipatia e falta de carisma que sobra em Lula e em Marina.

Ciro Gomes é muito bem preparado, mas sofre de uma doença rara em políticos de expressão nacional: a incontinência verbal. De repente um candidato preparado como Ciro tem um ataque de fúria e briga no ar com ouvintes de uma rádio de Salvador ou dispara uma besteira machista sobre sua companheira, a atriz Patrícia Pilar.

Se os quatro forem candidatos a presidente, teremos seis meses de uma interessante campanha eleitoral.

Uma coisa é certa: o PT não possui mais aquela aura de virgem no puteiro que tinha até a década de 80 e foi perdendo aos poucos na década de 90 e principalmente a partir da posse de Lula em 2003.

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