A primeira atitude que devo tomar depois do resultado das eleições de ontem no Maranhão é cumprimentar a governadora Roseana Sarney e o senadores Édison Lobão e João Alberto de Sousa por suas vitórias eleitorais.
A democracia é assim. A gente defende nossas idéias, temos nossas paixões políticas, mas depois que a maioria de eleitorado decide e bate o martelo, a democracia se fortalece e a vida segue.
Confesso que essas eleições aqui no Maranhão deixaram um gosto amargo de fel em minha boca. Todos os candidatos em que votei foram derrotados na urna: Aderson Lago, PSDB, para deputado estadual; Alexandra Tavares, PSB, para deputada federal; Zé Reinaldo Tavares (PSB) e Edson Vidigal (PSDB) para as duas vagas ao Senado Federal; Jackson Lago (PDT) para governador; e Marina Silva (PV) para presidente da República.
Na matéria que postei na última sexta-feira, sugeri aos amigos, conhecidos e leitores do blog que por uma questão de ideologia, não quisessem votar em Aderson Lago, por ser ele tucano, que votassem então em Bira do Pindaré, da ala antisarneysista do PT maranhense.
De todos os nomes que sugeri, Bira do Pindaré foi o único que se elegeu para fazer frente aos outros dois deputados estaduais eleitos pelo PT: Francisca Primo e José Carlos Nunes Filho, o Zé Carlos da Caixa. Os dois nunca foram petistas e só entraram no partido da estrela vermelho por conveniência e ligação com o grupo Sarney.
A vitória de Roseana Sarney foi muito apertada.
Roseana teve 1.459.792 votos, Flávio Dino obteve 859.402; Jackson Lago teve 569.412 votos; Marcos Silva 14.685, Saulo Arcangeli obteve 8.898 e professor Josivaldo 2.518 votos.
A diferença pró Roseana Sarney foi de apenas 4.877 votos, pois os cinco candidatos de oposição tiveram juntos 1.454.915 votos.
O resultado eleitoral mostra que o prazo de validade da era Sarney expirou ontem no Maranhão. Se a oligarquia iniciada por seu pai não se oxigenar e mudar os métodos de fazer política, este mandato será, com certeza, o último deste grupo que chegou ao poder em 1966 e dominou o Maranhão por 44 anos, com um breve intervalo de Junho de 2004 (quando José Reinaldo rompeu com Sarney) a Abril de 2009 (quando Jackson Lago foi cassado através de um golpe judiciário).
O uso irrestrito da máquina governamental estadual em favor de Roseana foi decisivo para sua apertadíssima vitória de ontem.
Segundo se comenta nos meios políticos mais de um bilhão de reais foram alocados nas eleições, distribuídos como convênios com municípios.
Nas campanhas eleitorais de Roseana, Ricardo Murad e Luciano Moreira, só para citar três exemplos, foram gastos dezenas de milhões de reais com uma produção caríssima de Rádio e TV (só Duda Mendonça foi contratado por R$ 12 milhões), materiais gráficos (santinhos, cartazes, bandeiras, adesivos, etc), mais de mil carros de som e combustível distribuído no balde em postos de gasolina localizados em todo o Estado.
Enquanto o candidato a governador pelo PDT, Jackson Lago, registrou no TRE/MA a doação de pouco mais de R$ 100 mil, Roseana registrou mais de cinquenta vezes mais e Ricardo Murad e Chiquinho Scórcio, ambos do PMDB, registraram pelo menos dez vezes mais doações do que Lago.
Crimes eleitorais estão sendo investigados pela Polícia Federal como no caso de pagamento ilegal de centenas de contas de energia, água e telefone pertencentes a moradores de bairros populares da capital, numa agência lotérica no centro de São Luís. O deputado Ricardo Murad é o principal suspeito deste crime que é passível com a pena de impugnação do registro de sua candidatura.
Roseana Sarney não poderá disputar um quinto mandato de governadora do Maranhão em 2014 e nesta próxima eleição acontecerá a renovação da elite dirigente do Maranhão.
Cafeteira terá quase 90 anos, Sarney 84, Jackson 79, Castelo 76, Lobão, 76, Zé Reinaldo 74, João Alberto e Vidigal com quase 70, e Roseana, Washington Luís (PT) e Sebastião Madeira com mais de 60.
Das gerações intermediária e da mais nova sobrarão Luís Fernando Silva, na casa dos 50 anos, Ricardo Murad com quase 50 anos, Flávio Dino, Bira do Pindaré (PT) e Roberto Rocha com idade variando de 42 a 46 anos.
E por enquanto são só esses nomes que despontam nas gerações mais novas.
O estilo trator e megalomaníaco de Ricardo Murad fazer política não aponta um futuro promissor para sua carreira política, principalmente no tocante a cargos majoritários.
Luís Fernando talvez seja a maior aposta e esperança de reciclagem política do grupo Sarney. Para confirmar o prognóstico, ele precisaria alçar vôos mais altos em 2012 quando termina seus dois excelentes mandatos de prefeito de São José de Ribamar.
Depois de um ótimo desempenho eleitoral em 2006 quando obteve mais de 500 mil votos para senador, Bira se manteve fiel aos seus princípios, não se rendeu ao grupo Sarney e ontem se elegeu deputado estadual. Jovem ainda, ele tem um futuro brilhante pela frente.
Flávio Dino bateu na trave pela segunda vez ao disputar um cargo majoritário. Deverá disputar a prefeitura de São Luís em 2012 e os quase 30% de votos obtidos ontem para governador vão fortalecer seu patrimônio eleitoral para disputar novamente o Palácio dos Leões em 2014 ou 2018. Sem dúvida nenhuma agora Flávio é o maior nome da oposição maranhense para embates futuros.
Roberto Rocha ainda é muito novo apesar de vários mandatos de deputado estadual e federal. Sua candidatura extemporânea a senador em 2010 poderá causar alguns percalços em sua vida política futura, mas ele tem o tempo a seu favor para corrigir rumos.
Gostaria de finalizar esta matéria fazendo uma homenagem especial ao doutor Jackson Lago. De todos os candidatos que concorreram às eleições de 2010, ele foi o mais prejudicado por ter conduzido toda uma campanha eleitoral sem recursos financeiros e com a situação jurídica indefinida.
Muita gente que gostaria de ter votado em Jackson, deixou de fazer por achar que o registro de sua candidatura seria cassado pelo TSE. Uma parte destes eleitores votou em Flávio Dino e outra parte considerável votou em Roseana Sarney, por achar que no final das contas seu pai conseguiria influenciar novamente os ministros do TSE para cassar o registro do ex-governador.
Jackson é um cidadão exemplar, um modelo de político íntegro e com vida pública ilibada. Confesso que votei nele ontem com orgulho e muito respeito por sua biografia política e pessoal.
Jackson Lago fez muita coisa pelo Maranhão em apenas dois anos, três meses e dezessete dias de mandato.
Foi o depositário dos sonhos e esperanças de quase 1.400.000 eleitores maranhenses em 2006, que pensaram que estavam se livrando da família Sarney.
O governo da Frente de Libertação do Maranhão não soube lidar corretamente com professores estaduais, policiais e funcionários públicos. Esqueceram que contra o governo atuava uma formidável máquina azeitada de comunicação; o sistema Mirante/Mentira de Comunicação.
Além de subestimar o império sarneysista de comunicação, fizeram pior: sob a falsa alegação da liderança de audiência ibopeana, pagou-se dezenas de milhões de reais para a rede de TV inimiga ficar cada dia mais forte e preparar e acalmar o espírito dos maranhenses para a cassação de seu querido governador.
Enquanto isso não se preparou nos 27 meses e meio de governo de Jackson nenhum estrutura alternativa de comunicação para resistir ao golpe judicial que se aproximava.
Existiam plenas condições a partir da posse de Jackson em Janeiro de 2007, de elaborar um plano de incentivo às rádios comunitárias, pequenos jornais, pequenas e médias estações de TV e de Rádio espalhadas pelo Maranhão, meios de comunicação de entidades populares como associações de classe, sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, igrejas evangélicas, comunidades eclesiais de base, etc.
E para finalizar muitos dirigentes graúdos do governo Jackson Lago não acreditavam no início, lá por 2007 e início de 2008, que a ação de cassação de Jackson iria prosperar e desse no que deu.
Subestimar um inimigo do porte de José Sarney foi fatal a Frente de Libertação do Maranhão e para o governo de Jackson Lago!!!
Devido ao ritmo intenso que tive nas últimas semanas, vou me afastar do blog por uns quinze dias, para cuidar melhor da minha saúde, que está muito irregular.
Voltarei a escrever lá pelo dia 20 de Outubro a tempo de comentar o segundo turno das eleições presidenciais.
Até lá!