sexta-feira, 7 de maio de 2010

Banqueiro denuncia conta de Roseana e Jorge nas Ilhas Cayman

O banqueiro Rudolf Elmer, ex-vice-diretor da filial do banco suíco Julius Bär, nas ilhas Cayman, confirmou em livro editado no último mês de março, na Alemanha, que a governadora Roseana Sarney era uma das clientes do banco.

“Outros indícios no meu levantamento de dados conduzem a Roseana Sarney, membro do Senado brasileiro e filha de ex-presidente, que mantém um trust com o nome Coronado no banco Julius Bär”, afirma o banqueiro no seu livro Bankenterror (Terror bancário).



Ex-diretor do Banco Julius Bär, Rudolf Elmer


A informação confirma dados obtidos pela ONG Wikileaks, especializada em rastrear dinheiro sujo. Segundo a organização, Roseana e Jorge Murad abriram uma conta em 1993 que teria movimentado 150 milhões de dólares até 1999.

O livro de Elmer, escrito em alemão, ainda não foi traduzido para o Português, mas já está disponível para compra em versão digital em formato e-book.

Na obra Elmer faz revelações sobre o que ele chama “o terrorismo financeiro internacional”, destacando o mecanismo dos negócios das offshores, empresas de sociedade anônima que realizam “o maior saque na história da humanidade sob o manto da soberania do Estado de Direito”. A história parece saída de um roteiro de filme policial.

Rudolf Elmer, o “homem-bomba da Suíça”, segundo o definiu a revista Isto-É Dinheiro, edição de maio de 2009, fala com a autoridade de quem foi por sete anos auditor do banco em Zurich, na Suíça, tendo então sido promovido a vice-diretor responsável pelas operações nas ilhas Cayman.

Lá ele cuidava das empresas, dos registros contábeis, contratos e transações em fundos off-shore. Nessa função ele sabia quem eram os clientes, mas não tinha contato direto com eles.

O mecanismo bancário permite que os clientes possam movimentar as contas através dos gestores do Julius Bär em Nova York ou Zurique. O Julius Bär é um dos mais sólidos bancos suíços, fundado em 1890, com uma carteira de clientes privados avaliada, em 2007, em 405 bilhões de francos suíços, espalhados em filiais em Nova York, Londres, Hong Kong, Dubai, Frankfurt, Grand Cayman, Guernsey, Los Angeles, Luxemburgo, Milão, Stuttgart e Viena. 

O soprador  de apito

A carreira de Elmer caiu em desgraça quando o banco sofreu um vazamento de informações na sua filial de Cayman e toda a diretoria foi obrigada a passar por detectores de mentira para apurar de quem seria a responsabilidade. Elmer se recusou a se submeter ao detector e foi demitido. Ele era um dos suspeitos, pois dentre suas tarefas estava a de fazer a guarda de dados sensíveis, mantendo uma cópia de segurança que era atualizada diariamente. Muitas vezes ele levava essa cópia para casa e quando foi demitido guardava algumas dessas fitas que, segundo ele, tornaram-se valiosas para se proteger da pressão do banco.

"Do ponto de vista jurídico eu não roubei o material, pois tinha autorização de guardá-lo", afirma hoje. Com o tempo ele decidiu utilizar o material para pressionar o banco,  como "uma forma de defender a mim e minha família", declarou à revista alemã Spiegel em 2008.

Elmer transformou-se num whistleblower (soprador de apito) que na gíria policial significa o Informante.

Ele resolveu abrir um site (www.swisswhistleblower.com) para tornar pública sua briga. Começou então uma longa saga de disputas, uma verdadeira guerra de Davi contra Golias.

Wikileaks 

Em 2004 Elmer processou o banco na justiça de Zurique, na mesma época em que a revista suíça Cash publicava matéria denunciando clientes alemães do Julius Bär que teriam sonegado grandes somas entre 1997 e 2002. Os documentos também chegaram às mãos de autoridades fiscais americanas que resolveram conduzir investigações.

Elmer partiu então para o ataque e resolveu disponibilizar alguns documentos para um site especializado na publicação de material confidencial suspeito, com o intuito de rastrear e desmascarar dinheiro e operações ilegais.

Os advogados do banco imediatamente processaram o site e em fevereiro de 2008 a Corte de São Francisco emitiu um mandado a pedido do banco Julius Bär para fechar o endereço do servidor Wikileaks.org, que tem sede nos Estados Unidos. 

Tiro pela culatra 

O que o banco não poderia prever é que a vitória judicial se transformaria na maior derrota de relações públicas que o banco jamais imaginara ter. Várias ONGs de defesa da liberdade de acesso à informação começaram a espelhar o site original com endereços postados fora da jurisdição americana. A disputa atraiu ainda mais a atenção da imprensa especializada a ponto do juiz revogar sua decisão. 

Elmer tem soltado informações pouco a pouco, mas foi categórico ao dizer em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, da Isto É-Dinheiro, em maio do ano passado, que “passaram pelo Julius Bäer em Cayman empresários, políticos e advogados brasileiros. Se houver interesse, posso vir a colaborar com a Justiça brasileira.” 

Roseana e Jorge 

Os dados disponibilizados pela Wikileaks já dão algumas pistas da conta Coronado, aberta em 27 de setembro de 1993, em nome de Mr. Jorge Francisco Murad e Mrs. Roseana Macieira Sarney.

Na época Roseana e Jorge estavam separados judicialmente desde a década de 80. Eles só se casaram novamente anos depois para impedir a candidatura do então oposicionista Ricardo Murad, irmão de Jorge, a senador pelo PDT do Maranhão, nas eleições de 1998.


Roseana Macieira Sarney e Jorge Francisco Murad Júnior


Com o recasamento oficial do irmão, Ricardo se tornou inelegível, pois não exercia mandato parlamentar e como cunhado de Roseana, na época governadora do Maranhão, não poderia se candidatar a qualquer cargo eletivo.

O site Wikileaks estima que pela conta do casal teriam passado 150 milhões de dólares até 1999. No entanto, não divulgou documentos de movimentação bancária. Mas o que foi disponibilizado é suficiente para que as autoridades brasileiras iniciem uma ampla investigação, a exemplo do que vem sendo feito com as contas do irmão, Fernando Sarney, acusado pela Polícia Federal de enviar remessas ilegais de dinheiro para bancos na China e na Suíça. 

Brecha na jurisdição e o sigilo bancário de Roseana

A legislação brasileira permite a quebra de sigilo bancário pela Receita Federal de empresas ligadas a offshores sem necessidade de autorização judicial, desde que haja indícios de irregularidades.

Não é crime ter uma conta off-shore em paraíso fiscal, desde que os valores sejam declarados ao fisco nacional. Uma consulta às declarações de Roseana entregues ao Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, por ocasião das eleições de 1994, 1998, 2002 e 2006 mostra que nunca houve menção às contas off-shore. 

Hoje á tarde, sexta-feira 07 de maio de 2010, A Polícia Federal indiciou o irmão de Roseana, Fernando Sarney, por evasão de divisas devido a uma remessa ilegal de um milhão de dólares através de uma empresa off-shore sediada nas Bahamas a um banco chinês.

Tal qual a irmã, Fernando também não informou em suas últimas declarações de rendimentos à Receita Federal a posse deste dinheiro enviado ilegalmente para a China.

A prática destes ilícitos parece ser uma marca registrada dos filhos, do genro e da nora do senador José Sarney.

Os indícios de lavagem de dinheiro no caso de Roseana Sarney e sua empresa Coronado são fortes. A conta foi aberta através do advogado José Brafman, investido com poderes de trustee (administrador). O trustee é quem detêm o título legal de propriedade da off-shore, para administrá-la em nome dos verdadeiros donos, como artifício para garantir o anonimato.

Dessa forma é assegurado o sigilo bancário até mesmo contra decisões judiciais. Esse modelo vem sendo questionado apenas nos últimos anos, através de acordos entre países para evitar que as offshores se tornem reduto de mafiosos e terroristas.

Por essa brecha tem se chegado a alguns figurões, como por exemplo, o ex-presidente do México, Carlos Salinas, que tinha uma conta milionária, adivinhe onde? No mesmo circunspecto banco Julius Bäer, nas ilhas Cayman. 

Uma consulta a internet revela que José Brafman é mais que um simples advogado. É um operador dos mais bem sucedidos. Segundo a revista Veja, edição de março de 2001, José Brafman atuou juntamente com Ricardo Sérgio e Miguel Ethel na formação do consórcio Telemar e do consórcio de Benjamin Steinbruch que resultou na privatização da mineradora Vale do Rio Doce. 



Miguel Ethel (foto á esquerda), segundo a mesma revista Veja, é amigo de  Fernando Sarney e Jorge Murad, que o fez sócio como condição para liberar o empreendimento do São Luis Shopping. Ainda hoje ele integra o Conselho Curador da Fundação José Sarney. Coincidências? 


Korruptionskandal 

O livro de Rudolf Elmer abre caminho para que as autoridades brasileiras puxem o fio dessa intrincada meada. Resta para nós maranhenses o vexame de saber que a  única pessoa de nacionalidade brasileira citada no livro foi Roseana Sarney, que agrega agora ao seu repertório de práticas suspeitas um palavrão, Korruptionskandal,  que não é preciso conhecer alemão, basta conhecer o sobrenome Sarney para entender. 

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