sábado, 14 de novembro de 2009

A estratégia se Sarney para se eleger governador do Maranhão em 1965

A vitória de José Sarney em 1965, quando ele se tornou governador do Maranhão com apenas 35 anos, foi resultado de um planejamento meticuloso elaborado depois que Sarney escapou da cassação após o golpe militar em março de 1964.

Sarney era deputado federal da UDN desde 1958 e depois de sua reeleição em 1962, ele se aproximou do pessoal da esquerda da UDN, conhecido como integrantes do grupo Bossa Nova.

Faziam parte deste grupo entre outros, os deputados federais Seixas Dória e Ferro Costa, cassados logo após o golpe militar.

Esperto, Sarney embarcou para Belo Horizonte onde foi buscar proteção do governador mineiro, Magalhães Pinto, um dos financiadores e avalistas do golpe militar.
Pinto procurou o Marechal Castelo Branco e lhe disse que Sarney era um político jovem e promissor e que poderia servir muito bem à “revolução militar” de 64. O general presidente respondeu então que se Sarney fizesse um discurso na Câmara Federal exaltando o golpe militar, ele seria perdoado.

Sem pestanejar, Sarney não só fez o discurso como abriu as portas para um relacionamento forte e duradouro que aconteceu por exatos 20 anos, quando Sarney rompeu com o PDS, partido de sustentação da ditadura militar e sucedâneo da ARENA, em 1984 e se filiou ao PMDB para se candidatar a Vice-Presidente da República na chapa de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.

O candidato natural do PSD de Vitorino Freire e do governador Newton Bello em 1965 seria Renato Archer, filho de governador maranhense Sebastião Archer, de 1946 a 1950.

Sarney tinha que arrumar um jeito de promover a cizânia no PSD e primeiro alvo era inviabilizar a candidatura fortíssima de Renato Archer. Aí começou a fama de político frio e calculista que Sarney possui até hoje.

Sarney comprou uma quantidade enorme de camarão seco, carne de sol e avoante e foi para Quixadá, no Ceará, onde foi levar as guloseimas para a escritora Raquel de Queiróz, que era muito, mas muito amiga do presidente-marechal Castelo Branco.

Em conversa com Raquel, Sarney conseguiu convencê-la que Renato era um homem de esquerda, simpatizante dos comunistas e esperou para ver o que aconteceria.

Tempos depois na primeira visita do Marechal a escritora, Raquel disse a Castelo que o Comandante Renato Archer era um homem muito perigoso para a revolução e que ele, o marechal, não poderia permitir que Archer se tornasse governador do Maranhão.

Algumas semanas mais tarde Castelo Branco encontrou o governador Newton Bello em Belém e lhe perguntou quem era o candidato a sua sucessão para governador do Maranhão. Bello respondeu que era Renato Archer e Castelo perguntou se ele não podia mudar de candidato porque os militares não confiavam em Archer. Não suportando a pressão, Bello cedeu e deixou de apoiar Archer.

O primeiro passo já tinha sido dado e Sarney então se preocupou com os eleitores fantasmas do Maranhão.

Para se ter uma idéia de como as coisas eram naquela época, o chefe político do PSD de Parnarama, na divisa com o Piauí, comprou os negativos de centenas de fotos de um fotógrafo de São Luís e fabricou centenas e centenas de títulos eleitorais fantasmas.

Como que por um encanto centenas de moradores de São Luís viraram eleitores em Parnarama, sem saberem. Como a fraude foi muito grande, alguns nomes conhecidos também tiveram suas fotos utilizadas na grosseira falsificação. Entre estes dois médicos muito conhecidos, o sogro de Sarney, Dr. Carlos Macieira e a médica comunista Maria Aragão.

Para combater esta velha e surrada prática de Vitorino e do PSD, Sarney conseguiu que o TSE ordenasse uma revisão eleitoral no Maranhão.

Como se diz foi uma revisão eleitoral meia boca, onde só os municípios onde o PSD imperava tiveram seus cadastros de leitores revisados na íntegra. Nesta brincadeira cerca de 250 mil títulos foram impugnados e anulados, principalmente onde o governador Newton Bello e o coronel Vitorino tinham maior força eleitoral.

Os municípios que na época já eram simpáticos a Sarney ou onde Sarney tinha apoio de algumas lideranças políticas realizaram revisões eleitorais parciais onde só o eleitorado sob influência do PSD foi revisado.

O segundo passo foi dado e só faltava Sarney deixar claro para os chefes políticos do interior do Estado que ele era o candidato oficialmente apoiado pela “revolução” de 1964.

Sarney pediu e Castelo despachou para o interior do Maranhão cerca de cem oficiais do Exército Brasileiro, entre coronéis, majores, capitães e tenentes. Eles foram a todos os municípios para lembrar aos prefeitos, vereadores e líderes políticos municipais que o presidente Castelo Branco apoiava José Sarney para governador do Maranhão.

O poder de persuasão destes militares era enorme e muitos aderiram de malas e bagagens a Sarney, abandonando a orientação política de Vitorino Freire que dominava a política maranhense desde a década de 40.

Depois houve o rompimento entre o governador Newton Bello, que lançou o ex-prefeito de São Luís, Antônio Eusébio da Costa Rodrigues, como candidato a governador pelo PSD ; e Vitorino Freire que lançou Renato Archer a governador..

Se não houvesse acontecido o golpe militar em março de 1964, o candidato natural da oposição ao PSD teria sido o combativo deputado federal Neiva Moreira. Ele foi cassado pelos militares e diante de um discurso oportunista e oposicionista, muitas lideranças que combatiam historicamente o PSD e o vitorinismo, acabaram ficando sem opção e votaram em Sarney, que se tornou governador do Maranhão aos 35 anos de idade como candidato das oposições.

Entre os militares que estiveram no Maranhão para exigir votos a Sarney, estavam dois jovens oficiais, que logo depois seriam generais de quatro estrelas, João Figueiredo e Dilermando Monteiro.

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