terça-feira, 27 de julho de 2010

O povo maranhense cansou do quase meio século de dominação satneysista

Nos últimos 45 anos o Maranhão teve dez governadores, Três foram nomeados por um arremedo de colégio eleitoral regional e eram filiados à ARENA, partido de sustentação da ditadura militar (Pedro Neiva de Santana – 1971/1974; Osvaldo Nunes Freire – 1975/1978; e João Castelo – de 1979 a 1982).

Sete governadores foram eleitos pelo voto direto, sendo que Roseana Sarney foi eleita duas vezes e está em seu terceiro mandato de governadora graças a uma controvertida decisão judicial que cassou o pedetista Jackson Lago em 17 de abril de 2009.

Em 1965, com um discurso de cunho progressista e prometendo mudanças radicais, o então deputado federal da UDN, José Sarney foi eleito governador com o apoio do grupo de oposição ao senador Vitorino Freire,que mandava na política maranhense desde a década de 40, chamado de oposições coligadas. Sarney também foi o candidato oficial da ditadura militar e do presidente-marechal Humberto Castelo Branco.

Sarney teve 121.062 votos (53,63% dos votos válidos - vv), derrotando o candidato do PSD e do governador Newton Bello, Costa Rodrigues (68.560 votos ou 30,37% dos vv) e o candidato de Vitorino Freire, Renato Archer (36.103 votos ou 15,99% dos vv).

Com a suspensão das eleições diretas para presidente da República, governadores de estado e prefeitos das capitais, o povo maranhense ficou doze anos sem eleger seu governador.

Em 1982 o PDS/MA liderado pelo grupo Sarney, do então senador pelo Maranhão, indicou o nome de Luís Rocha para disputar o governo estadual. Rocha foi eleito com 676.916 votos ou 64% dos vv. Em 2.°lugar chegou Renato Archer do PMDB com 180.287 votos (17% dos vv), seguido de Reginaldo Telles, do PDT, com 12.738 votos (1,2% dos vv), de Osvaldo Alencar, do PT com 8.243 votos (0,8% dos vv) e de Cesário Coimbra (PTB) com apenas 632 votos (0,06% dos vv).

O resultado eleitoral de 1982 refletiu a conjuntura política que o país ainda vivia. Eram os últimos momentos da ditadura militar no governo do general João Figueiredo, o PDS era muito forte no Maranhão e o PDT, PT e o PTB tinham se organizado no Estado um ano antes.

Nas eleições de 1986 o país já tinha mudado. Sarney era o presidente, vivíamos na euforia do Plano Cruzado e a coligação política nacional que sustentava Sarney na presidência, formada pelo PMDB e PFL, chamada de Aliança Democrática, venceu a maioria esmagadora das eleições para governador.

No Maranhão foi lançado o nome de Epitácio Cafeteira (PMDB) para governador e João Alberto de Sousa (PFL) para vice. Cafeteira obteve 1.040.384 votos (81% dos vv), suplantando o então senador João Castelo, do PDS, que teve 212.133 votos (16,5% dos vv) e Delta Martins, do PT, que obteve 31.504 votos (2,5% dos vv).

Quatro anos depois as eleições para governador aconteceram com Fernando Collor em seu primeiro ano de presidente da República. O candidato apoiado por Collor, o ainda senador João Castelo, venceu o 1.° turno com 595.392 votos (36,6%), seguido do também senador Édison Lobão, do PFL, com 459.542 votos (28,3%7) e Conceição Andrade, do PSB, com o apoio do PDT e PT, que obteve 246.468 (16,2%).

No segundo turno de 1990, o grupo Sarney virou a eleição e Lobão venceu com 695.727 votos (48,5%) contra 594.620 votos para Castelo (41,5%).

Em 1994 Sarney escolheu sua filha Roseana, então deputada federal do PFL para disputar a sucessão de Lobão. A eleição foi disputadíssima e registrou graves denúncias de fraude. No 1.° turno Roseana teve 541.005 votos (47,18% dos vv), Cafeteira obteve 353.032 votos (30,79% dos vv), Jackson Lago teve 231.528 votos (20,19% dos vv) e Francisco Chagas, do PSTU, teve 21.061 votos (1,84% dos vv).

No 2.° turno de 1994 Roseana venceu Cafeteira por apenas 18.260 votos. A candidata do PFL teve 753.901 votos (50,61% dos vv) contra 735.641 votos (49,39% dos vv) de Cafeteira.

Quatro anos depois o grupo Sarney teve uma das vitórias eleitorais mais folgadas desde 1965; Roseana estava doente e se reelegeu já no 1.° turno com 1.005.755 votos (66,46% dos vv) contra 401.578 votos (26,54% dos vv) dados a Cafeteira, que tinha Clay Lago como candidata a vice. Em 3.° chegou o então vice-prefeito de São Luís, Domingos Dutra, do PT, com 97.536 votos (6,45% dos vv) e em 4.° lugar o candidato do PSTU que obteve 8.296 votos (0,55% dos vv).

Em 2002 o candidato do PFL, José Reinaldo Tavares venceu no primeiro turno com 1.076.893 votos (51,05% dos vv), seguido de Jackson Lago com 896.930 votos (42,52% dos vv), de Raimundo Monteiro, do PT, com 127.082 votos (6,03% dos vv) e Marcos Silva, do PSTU, com 8.391 votos (0,40% dos vv).

Nesta eleição o candidato do PSDB, Roberto Rocha, que chegou a ter 8% de intenção de votos, retirou a candidatura para apoiar Jackson 15 dias antes das eleições; e Ricardo Murad, do PSB, que pleiteava uma candidatura a governador pelo PSB, chegou a ter seu nome incluído na cédula eleitoral, tendo mais de 7% dos votos, mas o registro de sua candidatura foi impugnado pelo TSE pelos laços de parentesco com a ex-governadora Roseana Sarney, de quem Ricardo é cunhado.

Entre 2002 e 2006 aconteceu o mais grave rompimento dentro do grupo Sarney. O governador Zé Reinaldo Tavares e a então primeira-dama, Alexandra Tavares, não agüentando mais a intromissão da senadora Roseana no governo estadual, resolveram romper relações políticas com a família Sarney em Maio de 2004.

Dois anos depois Roseana se candidatou a governadora pelo PFL e foi a candidata que mais teve votos no 1.° turno daquelas eleições com 1.282.053 votos (47,21% dos vv), seguida de Jackson Lago, do PDT, com 933.089 votos (34,36% dos vv), do candidato do governador Zé Reinaldo, o ex-presidente do STJ, Edson Vidigal, do PSB, com o apoio do PT e do PC do B, que obteve 387.337 votos (14,26% dos vv), do tucano Aderson Lago com 93.351 votos (3,44% dos vv), de João Bentivi, do PRONA, com 11.987 votos (0,44% dos vv), de Saturnino Moreira, do PSOL, com 6.159 votos (0,23% dos vv) e de Antônio Aragão, do PSDC, com 1.534 votos (0,06% dos vv).

No segundo turno com o apoio público de Vidigal e de Aderson Lago, Jackson obteve 1.393.754 votos (51,82% dos vv) e venceu Roseana que obteve 1.295.754 votos (48,18% dos vv). Do 1.° para o 2.° turno Jackson agregou mais 460.665 votos, enquanto Roseana obteve apenas 13.701 votos a mais.

A tese da Frente de Libertação do Maranhão, união das oposições para derrotar o grupo Sarney, foi vitoriosa, pois Jackson no 2.° turno obteve 95,77% da soma de votos que Vidigal e Aderson obtiveram no 1.° turno daquelas eleições.

Eu fiz esta pesquisa histórica sobre o resultado das eleições diretas para governador do Maranhão desde 1965 para embasar a minha posição defendida anteontem no blog de que dificilmente Roseana Sarney será eleita no 1.° turno das eleições de 2010.

Nas últimas oito eleições diretas para governador foi registrada uma vitória acachapante, que foi a de Cafeteira em 1986 com 81% dos vv; duas vitórias folgadas: a de Luis Rocha em 1982, com 64% dos vv e a reeleição de Roseana em 1998, com 66% dos vv; duas vitórias apertadas: a de Sarney em 1965, com 53,63% dos vv e a de Zé Reinaldo Tavares em 2002 com 51,05% dos vv; duas vitórias com votação insuficiente para definir o vencedor no 1.°turno: a de Roseana em 1994 com 47,18% dos vv e outra vez de Roseana em 2006 com 47,21% dos vv; e uma derrota com Lobão em 1990 com 28,3% dos vv.

Levando-se em conta os números da Escutec publicados anteontem, tanto Jackson com 25,8%, como Flávio Dino com 16,8% das intenções de votos, têm muito espaço para crescerem.

Jackson teve 20,19% dos vv em 1994, quando não era conhecido no Estado; obteve 42,52% dos vv em 2002 com o apoio do PSDB; e teve 34,36% dos vv em 2006. Agora em 2010, depois de um governo de realizações e de ter sido vítima de um golpe judiciária engendrado por Sarney, não acredito que Jackson terá menos de 30 a 33% dos votos no primeiro turno das eleições 2010. Por maior que seja seu desgaste na capital, sua força eleitoral no interior, principalmente, na região tocantina e em Timon, Presidente Dutra e Pinheiro é muito grande.

A campanha eleitoral de Flávio Dino tem muitas possibilidades de crescer e suplantar a casa dos 20% de preferência popular. Não podemos esquecer que na disputa pela prefeitura da capital em 2008, Dino começou com apenas 4% das intenções de votos e deu uma canseira danada no experiente tucano João Castelo, que só venceu no 2.° turno graças ao trabalho de rua da militância jovem do PDT e do apoio do então governador Jackson Lago.

É lógico que a campanha de Roseana Sarney também pode crescer. Mas com a faca e o queijo na mão, a filha dileta de Sarney dá a nítida impressão que já bateu no teto. Afinal de contas ela pleiteia seu quarto mandato e o grupo liderado pelo pai domina o estado há 45 anos, com intervalo de apenas cinco anos, desde o rompimento de Zé Reinaldo em Maio de 2004 até a cassação de Jackson em Abril de 2009.

Será que seria radicalismo afirmar que o povo maranhense cansou do domínio de uma família que em quase meio século de poder trouxe muito pouco desenvolvimento para o Estado?

Somos campeões ou vice-campeões nacionais em quase todos os índices negativos que medem as péssimas condições de vida a que a maioria dos nossos seis milhões de habitantes está submetida!

Por isso acho que simplesmente o povo cansou da presença de um Sarney no comando do Maranhão.

3 comentários:

  1. O jornalista não foi claro. O Zé Reinaldo se elegeu governador devido à artimanha da oligarquia. Esta, com seu candidato, o mesmo senhor Zé Reinaldo, utilizaram a candidatura do senhor Ricardo Murad para influir no resultado da eleição. Caso o Dr. Jackson Lago tivesse alcançado os 48,5% dos votos, com certeza o senhor Zé Reinaldo e o seu grupo iriam usar a candidatura laranja do Murad para fazer valer e provocar o segundo turno. A candidatura Murad foi mantida pelo próprio grupo Sarney para beneficiar o senhor Zé Reinaldo. Como foi ele que alcançou os 48,5% dos votos no primeiro turno, fizeram com que fossem anulados os votos do Ricardo Murad e, o senhor Zé Reinaldo apareceu na foto na primeira página do dia seguinte ao lado dos Sarneys e Lobão.

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  2. Jackson Lago em 2002 tinha menos força do que em 2006, qundo já era bem mais conhecido. O "se" em política não existe. Jackson teve um pouco mais de 42% em 2002, que é a soma dos 33% a 35% que ele realmente tem com os 7% ou 8% de Roberto Rocha, que retirou a candidatura para apoiar Jackson.

    Está provado que no Maranhão a oposição precisa sempre lançar dois ou três candidatos no primeiro turno para provocar o segundo. Foi assim em 1994, seria assim em 2002 se RR não tivesse retirado a candidatura e foi assim em 2006.

    Em 2010 a realidade está confirmndo esta tese. Uma disputa pau a pau entre um candidato de oposição e e roseana agora seria suicídio político.

    Marcos Nogueira

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  3. Sim, o jornalista não foi claro na questão de 2002.
    O Zé Reinaldo se elegeu devido à anulação dos votos do Sr. Ricardo Murad, que tinha sua candidatura como uma arma da oligarquia para ser validada ou não conforme o resultado do primeiro turno. Este é o ponto a que me referi e o jornalista não abordou.
    Com relação à tese de se ter 2 ou 3 candidaturas, suicídio político, como o jornalista mesmo diz, cabe o "se" como forma de existência ou não na política que é algo diferente da história ou da biologia que estudam o passado. A política é incerta e, o fato de no passado sempre ocorrer uma situação não implica que a mesma se repita na seguinte.

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