quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Deu na Folha de São Paulo: "Exigência de documento com foto para votar cria novo clientelismo no Maranhão"

A enviada especial do jornal Folha de São Paulo para cobrir as eleições do Maranhão, Elvira Lobato, publicou hoje matéria sobre um novo mercado clientelista no Maranhão; a expedição de arteiras de trabalho.

Leia a matéria completa de Elvira Lobato:

"A exigência de apresentação de um documento com foto, além do título eleitoral, para votar criou um novo mercado para o clientelismo eleitoral no interior do país.

No Maranhão, cabos eleitorais pagam o transporte para jovens de famílias de baixa renda tirarem a carteira de trabalho, e ficarem aptos para a votação. A oferta pressupõe o compromisso de voto nos candidatos que bancam a viagem.

A reportagem da Folha ouviu relatos dessa compra indireta de votos nos municípios de Cachoeira Grande e de Morros, situados a cerca de 100 Km da capital maranhense, na região conhecida como Vale do Munin, em referência ao rio que corta as localidades.

A estudante Silmara Cruz, 18, contou que ela e a irmã Cecília, 19, tiraram carteira de trabalho dessa forma, na semana passada. Ela disse que viajou com mais sete jovens a Axixá, um município vizinho, para obter o documento, com passagem paga por
pessoa ligada ao grupo de Roseana Sarney(PMDB).

A jovem é aluna do segundo grau do Centro de Ensino Tancredo Neves, uma escola pública estadual com 580 alunos. A diretora adjunta da escola, Marizete Santos, disse que a maioria dos estudantes não tem carteira de identidade, nem CPF, o que, inclusive, impede a participação deles nos exames do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Dos 68 alunos que concluíram o ensino médio na escola, no ano passado, 30 ainda não retiraram o histórico escolar por falta de carteira de identidade, o que dá uma dimensão do problema.

Aleff Oliveira Reis, 17, aluno do 2º ano do ensino médio, também viajou a Axixá, para tirar carteira de trabalho, com passagem custeada pelo PMDB.

O jovem disse que não conseguiu o documento no próprio município, porque a prefeitura alegou que estava sem o material para a emissão da carteira de trabalho.
Davi Teixeira, 18, mora com a avó, um prima, um irmão e um sobrinho, a 5Km de Morros. Ele e a avó plantam milho, mandioca e feijão para subsistência da família. O jovem cursa o 3º do ensino médio e não tem carteira de indenidade, nem a de trabalho, mas defende a exigência de um documento com voto para votação, para evitar fraude.

Disse que a situação financeira da família é muito difícil, e ele não pode gastar R$ 35 para ir a São Luís tirar a carteira de identidade. Disse que daria o voto para presidente a Dilma Rousseff, por causa de Lula, e que está indeciso em relação à eleição para governador.

Em Cachoeira Grande, estudantes contaram que os cabos eleitorais pagaram viagem até São Luís para a obtenção de carteira de identidade, e que enviavam uma pessoa na véspera para obter as senhas par agilizar o atendimento ao grupo.

OUTRO LADO

A assessoria da governadora Roseana Sarney, que disputa a reeleição numa coligação de 16 partidos, negou haja dificuldade para obtenção de carteira de identidade e CPF no Estado.

Segundo a assessoria, o governo mantém 20 ônibus equipados com material necessário para emitir os documentos, circulando pelos municípios, e não haveria "demanda reprimida".

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