terça-feira, 14 de setembro de 2010

Maranhão foi o estado que mais recebeu verbas, mesmo depois de ter sido considerado inadimplente pela União

O site Congresso em Foco postou hoje de manhá uma interessante matéria que comprova que o governo Lula liberou quase R$ 90 milhões para o Maranhão, mesmo depois que o governo de Roseana Sarney foi considerado inadimplente junto à União.


4/09/2010 - 06h00

Mesmo inadimplentes, estados recebem do governo

Por regra, governos que não prestam suas contas estariam impedidos de receber novos recursos. Mas levantamento nos dez maiores estados mostra que sete estão inadimplentes. Mesmo assim, receberam R$ 253,5 milhões

Eduardo Militão

O governo federal reservou no orçamento pelo menos R$ 253,5 milhões para sete estados inadimplentes, selecionados dentre os dez maiores do país, onde vive 76% da população.

São estados que receberam dinheiro da União para fazer obras e programas sociais, mas, de acordo com registros do Tesouro Nacional, não prestaram contas sobre se usaram corretamente os recursos, ou fizeram isso fora do prazo, ou não apresentaram documentos exigidos ou são investigados por tomadas de contas. Por regra, repasses semelhantes a esses são irregulares. De acordo com nota técnica da Câmara à qual o Congresso em Foco teve acesso, uma norma foi criada para “afrouxar” os critérios de transferência de dinheiro público.

As prestações de contas servem para, por exemplo, comprovar que os recursos foram usados corretamente e que não houve fraude ou desvio de dinheiro público. É um dos meios para se evitar e punir casos de corrupção. Constatado algum problema na prestação de contas, a regra determina a paralisação de novos repasses.

O Congresso em Foco fez um levantamento dos repasses feitos pelo governo federal nos dez maiores estados brasileiros. De janeiro a 6 setembro, eles receberam empenhos de R$ 759 milhões em convênios, segundo o Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira, que registra gastos da União), excluídas as áreas de saúde, educação e assistência. O levantamento mostra que, desse montante, pelo menos R$ 253,5 milhões foram empenhados para sete estados que não estavam em dia com as suas contas. Dos sete estados inadimplentes, seis são da base aliada do presidente Lula.

Representantes do Ministério do Planejamento afirmam que haverá uma reunião extraordinária do colegiado responsável pelas regras do repasse de dinheiro para convênios. Só então poderão dizer por que as transferências estão sendo feitas, se elas estão dentro da legalidade e se houve “afrouxamento” de regras por parte do Executivo.

Os estados negaram qualquer irregularidade ou favorecimento por conta de ligações com o presidente Lula. E indicaram liminares judiciais para continuarem recebendo dinheiro da União.

Crime com as mãos

A Nota Técnica 11/10, da Consultoria de Orçamento e Fiscalização da Câmara, diz que o governo publicou uma diretriz ilegal para tornar menos criteriosa a liberação de dinheiro público a estados com problemas na prestação de contas. Na interpretação do estudo, a Diretriz 2/10, da Comissão Gestora do Sistema de Convênios (Siconv), redigida em 2009 e aprovada em 24 de junho passado, permite que a União, em vez de checar se o estado e todas as suas secretarias, fundações e institutos estão em dia com o governo, confira apenas se o estado e a secretaria que vai receber os recursos cumprem as exigências.

“Se a Universidade de Pernambuco ou a Secretaria de Educação estiver inadimplente, isso não atinge outros órgãos”, confirma o gerente de orçamento da Secretaria de Planejamento de Pernambuco, Edilberto Xavier.

A nota critica a prática. “Seria admitir que, por um criminoso ter cometido um homicídio com as mãos, os pés poderiam ficar livres e saírem da prisão”, diz o estudo, assinado pelo consultor Francisco Lúcio Pereira Filho. Segundo ele, o procedimento do governo federal contraria a legislação vigente.

O consultor Pereira Filho diz que, se um órgão da administração direta (uma secretaria) ou indireta (uma fundação, por exemplo) não estiver em dia com as obrigações, o estado todo está proibido de receber dinheiro da União. Na nota, ele afirma que o governo federal “não pode fechar os olhos” para casos de inadimplência.

Veja agora a relação dos estados inadimplentes, com o número de órgãos nesta situação e o valor dos empenhos recebidos depois da inadimplência:

Maranhão - (2 órgãos) - R$ 88,6 milhões;

Pará - (10) - R$ 61,4 milhões;

Paraná - ($) - R$ 43,2 milhões;

Rio Grande do Sul - (1) - R$ 31,7 milhões;

Bahia - (3) - R$ 16,1 milhões;

Pernambuco - (2) - R$ 11,0 milhões; e

Rio de Janeiro - (1) ; R$ 1,6 milhão


Únicos em dia

Os dez maiores estados do Brasil são comandados por sete governadores da base aliada do presidente Lula e três da oposição.

Proporcionalmente aos R$ 759 milhões empenhados este ano, os estados da base receberam 66% e os da oposição, 34%. Dos recursos recebidos, os da base receberam 45% em período em que estavam inadimplentes. Os da oposição, 12%.

São Paulo, Minas Gerais, na oposição, e Ceará, na base, são os únicos em dia com as prestações de contas, segundo registros do Tesouro.

Mas Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará, Pará e Maranhão estão inadimplentes. Juntos, eles receberam empenhos (reserva de pagamento) de R$ 253,5 milhões este ano. Único estado da oposição no grupo, o Rio Grande do Sul está inadimplente desde 1997, por conta da instauração de tomada de contas especial no Instituto do Arroz.

Os estados que, neste ano, foram mais beneficiados com empenhos após a inadimplência são dirigidos por partidos da base aliada e cujos governadores tentam a reeleição. No Maranhão de Roseana Sarney (PMDB), inadimplente desde o ano passado, foram R$ 88 milhões. No Pará, de Ana Júlia Carepa (PT), com problemas desde 2008, foram R$ 61 milhões.

Em terceiro lugar, o Paraná teve R$43 milhões em empenhos apesar de inadimplente desde o ano passado. O ex-governador Roberto Requião (PMDB) concorre ao Senado e seu vice, Orlando Pessuti (PMDB), tenta continuar no governo.

Apesar da ligação com o Planalto, os estados negam que a relação com Lula tenha a ver com a liberação de recursos. É como dizem os auxiliares do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), ex-ministro da coordenação política de Lula: “Essa aproximação entre o governador e o presidente não justifica receber algo que a lei impede. Não é por amizade.”

MARANHÃO

A assessoria do governo do Maranhão reconhece que há pendências sobre os convênios, mas diz que os repasses de dinheiro estão embasados por uma liminar do Supremo Tribunal Federal. A nota, porém, diz que a decisão permite firmar empréstimos internacionais e no BNDES, sem mencionar se isso abrange também a transferência de recursos para convênios.

O governo do Maranhão diz que não agiu politicamente para obter dinheiro público apesar das pendências. A ação foi jurídica, afirma a nota dos auxiliares da governadora Roseana Sarney (PMDB).

A íntegra da nota da assessoria do Maranhão:

Prezado Militão,

O Governo do Estado reconhece pendências em relação aos convênios citados. No entanto, a Procuradoria Geral do Estado obteve liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu ao governo realizar empréstimo no BNDES/BID. Portanto, não houve nenhum tipo de ação política, mas sim jurídica.

Ribamar Cunha

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