Leiam a matéria publicada na edição de ontem do jornal paulista "U Estado de São Paulo", assinada pelo jornalista Felipe Recondo.
Secretário de Justiça e Segurança do Amapá foi nomeado como favor político
Felipe Recondo / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
A nomeação de um dos pivôs do esquema de corrupção no governo do Amapá foi acertada pelo presidente do Senado, José Sarney, em seu gabinete. Depoimento prestado à Polícia Federal no dia 26 de novembro do ano passado mostra que a escolha de Aldo Alves Ferreira para a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Estado teria tido interferência direta de Sarney.
A nomeação de Aldo Ferreira foi, segundo o depoimento, realizada em pagamento a um favor prestado ao então governador do Amapá, Waldez Góes (PDT). O secretário foi preso na última sexta-feira durante a Operação Mãos Limpas ao desembarcar em Brasília. Em seu gabinete, em Macapá, policiais apreenderam duas malas com R$ 540 mil em espécie. As investigações encontraram indícios de fraudes em licitação em contratos firmados pela secretaria.
O assessor jurídico da secretaria, Luiz Mário Araújo de Lima, ouvido logo no início das investigações, relatou ter sido informado que a escolha de Aldo Ferreira foi decidida em reunião entre Sarney, o senador Gilvam Borges (PMDB) e a deputada Fátima Pelaes (PMDB). Conforme o depoimento, Aldo Ferreira teria exigido o cargo como pagamento por um favor a Waldez Góes e sua mulher, Marília Góes.
Aldo Ferreira teria eliminado de uma investigação da Polícia Federal qualquer menção sobre a participação de Góes e Marília num esquema de fraudes na compra de medicamentos e materiais médicos, descoberto em 2007. Naquela época, Aldo Ferreira estava na Superintendência da Polícia Federal no Estado. As investigações levaram à prisão de dois ex-secretários de Saúde, deputados e empresários.
Na reunião no gabinete de Sarney, conforme o depoimento de Lima, Gilvam Borges teria se posicionado contra a escolha do secretário "por entender que a exigência de Aldo era demasiada". Sarney teria advertido o senador. "Sarney o admoestou dizendo que quem estava precisando de favor eram eles e não Aldo", disse o assessor jurídico. Aldo teria sido nomeado secretário nessa mesma reunião.
Sarney é ainda apontado como suspeito de ordenar a contratação de um helicóptero para o Grupo Tático Aéreo (GTA), contrato que o assessor jurídico afirma ser "absurdo" e fraudulento. O gasto com o aluguel do helicóptero chega a R$ 300 mil mensais, incluindo despesas pagas pelo Estado como combustível e salário dos pilotos. No depoimento, Lima afirmou que "Aldo não tem influência sob o contrato do helicóptero GTA" e que acredita que o caso seria "diretamente" com Sarney.
Outro lado
Por meio de sua assessoria, Sarney negou que tenha se reunido com o grupo de parlamentares para discutir a nomeação de Aldo para a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Amapá. "Essa reunião nunca existiu", informou. "O presidente não interferiu ou influiu na escolha do referido secretário ou de qualquer outro secretário de Estado do Amapá." O senador também negou influência na indicação da empresa que aluga o helicóptero para o GTA.
TRECHOS DO DEPOIMENTO DE LUIZ MÁRIO ARAÚJO DE LIMA À PF
"Que Aldo teria assumido a secretaria alguns meses antes, 4 ou 5 meses; que soube através de terceiros que o secretário Aldo teria assumido o cargo em decorrência de favor prestado quando atuante da Superintendência da Polícia Federal do Amapá ao governador Valdez Goes e sua esposa Marília; que segundo relato no decorrer de uma investigação da Polícia Federal Valdez e Marília teriam sido observados recebendo dinheiro decorrente de mude nas licitações e contratos; que consta que Bispo teria sido chamado a Brasília pela deputada federal Fátima Pelaes para uma conversa que teria ocorrido no gabinete do senador José Sarney; que no gabinete estariam presentes os senadores José Sarney, Gilvam Borges, a deputada Fátima e Bispo, e numa sala ao lado estaria o governador Valdez Góes; que na reunião foi discutida a exigência feita por Aldo de assumir a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Amapá, e isso, sem interferências políticas externas; que o senador Gilvam teria sido contra por entender que a exigência de Aldo era demasiada, sendo que o senador Sarney o admoestou dizendo que quem estava precisando de favor eram eles e não Aldo; que nessa reunião, então, foi confirmado que Aldo assumiria a Sejusp."
"Que outra fraude que acredita ocorrer é referente à contratação de helicóptero para o Grupo Tático Aéreo, pois o contrato é absurdo, além do que o Estado é responsável pelo combustível, pelo salário dos pilotos e horas extras voadas; que chega a R$ 300.000 mensais o gasto com o helicóptero; que a indicação para a contratação da empresa que fornece o helicóptero teria partido do senador José Sarney; que a exemplo do contrato de alimentação do Iapen o secretario Aldo não tem influência sobre o contrato do helicóptero; que acredita que isso seja diretamente com o senador José Sarney."
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